A Síndrome do Ex-Loser é muito mais prosaica do que alguns podem imaginar. O típico perfil psicológico dos seres acometidos pela doença é bem clichê.
Ele era uma criança ou adolescente fora dos padrões físicos europeus. Era tímido, gostava de atividades intelectuais e não era o melhor atacante do time de futebol. Usava aparelho e as roupas nunca lhe caíam bem (ou não sabia escolhê-las).
Na puberdade, as meninas nunca faziam festa para ele. Nas festinhas, ficava no canto do salão com seu grupo de amigos conversando sobre a campanha de RPG.
Eis que algum evento inusitado ocorre em sua vida e ele se dá conta de que o que quer mesmo é fazer parte da galera descolada que faz sucesso na cidade. Quer frequentar os shows de forró e ser disputado para dançar. Quer poder escolher entre as garotas disponíveis daquele grupo que conheceu na viagem, e não ficar com a única que sobrou.
A idade também ajuda: agora sua voz não oscila mais. Seus ombros estão mais largos e o remédio para espinhas finalmente fez efeito. Ele se matricula numa academia e começa a prestar atenção nas roupas que a "galera" descolada gosta de usar. Adicione isso ao fato de ter conseguido passar logo no vestibular, em curso badalado. Pronto! Ele já é um Ex-Loser!
A próxima etapa é sair pelo mundo como um rolo compressor, sem se importar com os problemas e sentimentos alheios. Punindo todos aqueles que não têm nada com o fato de sua vida, até então, ter sido um depósito de frustrações.
O problema dessa categoria de gente é o mesmo dos adultos em relação às crianças: eles esquecem que já foram pequenos um dia. Assim, passam a recriminar as atitudes infantis sem ao menos dar uma paradinha para refletir. Há quem diga que quando nos tornamos adultos é que ficamos idiotas. Eu digo o mesmo com os Ex-Losers.
Clá há tempos me indica um livro de Martin Page chamado "Como me tornei estúpido". Tenho a leve impressão de que ficarei viciada quando começar a ler, por isso não o fiz ainda. A linguística me consome.
Tornar-se estúpido é justo o procedimento de um Ex-Loser. Ele abandona tudo o que tinha de bom - a maneira peculiar de ver o mundo, os gostos peculiares, os amigos estranhos e engraçados - e passa a fazer parte de um mundo massificado, banal e desprezível. Ele passa a ser mais um.
Todo mundo quer ser incluído, se identificar. O problema é que alguns não conhecem limites para isso, tomando uma decisão quase sempre sem volta.
É engraçado como às vezes é fácil reconhecer o tipo Ex-Loser. É quase possível enxergar nele os vestígios de alguém realmente diferente e decente, mas ele não deixa a coisa transparecer por muito tempo, enterrando o seu ex-eu com uma boa camada de idiotice.
De acordo com dados experienciais e empíricos, eu daria o seguinte conselho para alguém que conhece gente assim e tem esperanças de resgatar o ser humano decente contido ali:
Se somente você enxerga uma pessoa e todos os outros não a veem, há somente duas hipóteses. Primeira: você tem esquizofrenia. Segunda: a pessoa não existe. (A segunda não exclui a primeira, ratifica).
Aprendi em psicologia que a realidade deve ser atestada por mais de uma testemunha para ser reconhecida oficialmente como tal.
Se só você consegue ver as valiosas e remanescentes qualidades especiais contidas naquele Ex-Loser, talvez elas não estejam mesmo mais lá. Talvez elas estejam apenas em você. Um original Loser, eterno e incurável (que bom).
E lembre-se: só Jesus salva. Não queira ser Jesus, ele só levou revés.
Beijos.
Ele era uma criança ou adolescente fora dos padrões físicos europeus. Era tímido, gostava de atividades intelectuais e não era o melhor atacante do time de futebol. Usava aparelho e as roupas nunca lhe caíam bem (ou não sabia escolhê-las).
Na puberdade, as meninas nunca faziam festa para ele. Nas festinhas, ficava no canto do salão com seu grupo de amigos conversando sobre a campanha de RPG.
Eis que algum evento inusitado ocorre em sua vida e ele se dá conta de que o que quer mesmo é fazer parte da galera descolada que faz sucesso na cidade. Quer frequentar os shows de forró e ser disputado para dançar. Quer poder escolher entre as garotas disponíveis daquele grupo que conheceu na viagem, e não ficar com a única que sobrou.
A idade também ajuda: agora sua voz não oscila mais. Seus ombros estão mais largos e o remédio para espinhas finalmente fez efeito. Ele se matricula numa academia e começa a prestar atenção nas roupas que a "galera" descolada gosta de usar. Adicione isso ao fato de ter conseguido passar logo no vestibular, em curso badalado. Pronto! Ele já é um Ex-Loser!
A próxima etapa é sair pelo mundo como um rolo compressor, sem se importar com os problemas e sentimentos alheios. Punindo todos aqueles que não têm nada com o fato de sua vida, até então, ter sido um depósito de frustrações.
O problema dessa categoria de gente é o mesmo dos adultos em relação às crianças: eles esquecem que já foram pequenos um dia. Assim, passam a recriminar as atitudes infantis sem ao menos dar uma paradinha para refletir. Há quem diga que quando nos tornamos adultos é que ficamos idiotas. Eu digo o mesmo com os Ex-Losers.
Clá há tempos me indica um livro de Martin Page chamado "Como me tornei estúpido". Tenho a leve impressão de que ficarei viciada quando começar a ler, por isso não o fiz ainda. A linguística me consome.
Tornar-se estúpido é justo o procedimento de um Ex-Loser. Ele abandona tudo o que tinha de bom - a maneira peculiar de ver o mundo, os gostos peculiares, os amigos estranhos e engraçados - e passa a fazer parte de um mundo massificado, banal e desprezível. Ele passa a ser mais um.
Todo mundo quer ser incluído, se identificar. O problema é que alguns não conhecem limites para isso, tomando uma decisão quase sempre sem volta.
É engraçado como às vezes é fácil reconhecer o tipo Ex-Loser. É quase possível enxergar nele os vestígios de alguém realmente diferente e decente, mas ele não deixa a coisa transparecer por muito tempo, enterrando o seu ex-eu com uma boa camada de idiotice.
De acordo com dados experienciais e empíricos, eu daria o seguinte conselho para alguém que conhece gente assim e tem esperanças de resgatar o ser humano decente contido ali:
Se somente você enxerga uma pessoa e todos os outros não a veem, há somente duas hipóteses. Primeira: você tem esquizofrenia. Segunda: a pessoa não existe. (A segunda não exclui a primeira, ratifica).
Aprendi em psicologia que a realidade deve ser atestada por mais de uma testemunha para ser reconhecida oficialmente como tal.
Se só você consegue ver as valiosas e remanescentes qualidades especiais contidas naquele Ex-Loser, talvez elas não estejam mesmo mais lá. Talvez elas estejam apenas em você. Um original Loser, eterno e incurável (que bom).
E lembre-se: só Jesus salva. Não queira ser Jesus, ele só levou revés.
Beijos.
5 comentários:
MUITO BOM.
Eu sou super esquizofrênica.
Loser ele continua sendo, mas 'acha' que não, então o termo continua valendo :D
Só CTRL+S salva (mas CTRL+B quebra o galho).
Leia, eu já li e recomendo também. ^^
E a gente poderia falar horas a fio dos Ex-Losers, não é?! hauisaiuhsuiahsuih
O fato é que eu sempre acho que é melhor deixar eles tomando no cu a salva-los. Ficadica.
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