Falando desse texto maravilhoso de Eliane Brum, que felizmente me caiu nas mãos esta semana, me veio como gofo uma memória presa e reprimida de infância.
Certa vez, eu brincava me pendurando em dois sofás de sala. Colocando uma mão em cada braço de sofá, eu levantava meu corpo, e balançava pra frente e pra trás, pra frente e pra trás... Outra hora eu ficava parada, com os pés no ar, me vendo voar.
E nesse dia, eu voei. Denotativamente. Eu me senti levitar. Eu podia jurar por qualquer parente que voei durante poucos segundos. Foi muito real.
A ideia de fabulação de que fala Mia Couto e que Eliane Brum cita me veio hoje, depois de tantos anos, pra repensar a minha experiência quase extracorpórea, à qual só tenho acesso pela memória, essa instância que é a mais fabuladora que pode existir.
Não importa se eu voei ou se eu voaria. Eu voei. Eu deixei a minha matéria, eu senti. E tudo que se sente é verdade, o que se fabula é verdade, é a nossa verdade.