quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Acadêmica, oh noes!

Essa semana, descobri que sou muito, mas muito acadêmica. Que acredito, de coração, que teoria é necessária, que existe literatura boa e ruim, que deve-se ou não ler esse ou aquele livro por motivos justificáveis.

Descobri que minha vida persegue regras e cânones: que gosto quando me dizem o que é certo o que é errado e quando me dão argumentos bons.

Hilda é adjetivada constantemente como transgressora. Dizem que sua literatura ou é difícil ou é xula. Por que putaria de Hilda Hilst ou de Bucowski é boa literatura e Paulo Coelho não é? Só porque ele diz coisas do tipo "tudo conspira a seu favor" enquanto Hilda cita a palavra "cu" diversas vezes?
Acho que é por causa de perguntas como essas que eu acho que deve ser feita a teoria. A literatura pode, sim, ser natural e descompromissada com propósitos estéticos, mas quando é publicada se torna passível de críticas (boas ou ruins, a saber).

Em umas conversas, ouvindo mais do que falando (alteridade mode), descobri o quanto sou acadêmica. O que nem me surpreende muito, porque sempre adorei as regras, elas me dão segurança. Mas quando esse tipo de coisa é notado por uma segunda pessoa e quando esta segunda pessoa está se tornando muito próxima a ponto de ser uma ameaça, a descoberta fica um pouco mais assustadora. Sou acadêmica! Ainda sirvo?

E meus pés, costurados ao chão, só avançam nesse sentido, enquanto meu coração me leva na direção contrária. Falar, ouvir, pensar. Livremente?

Mas que este gato quentinho nunca mais se banhe na água fria. Ele não vai.

2 comentários:

Anônimo disse...

estou de volta. o sumir faz parte da vida, logo comentarei decentemente, deixa-me ler primeiro.

Heber Costa disse...

Gostei dessa reflexão... e me identifiquei muito. Talvez não seja exatamente "ser acadêmico", a não ser que seja no sentido de "ser criterioso" por critérios que não tenham simplesmente "dado na telha".

Questiono em parte o "ser acadêmico" porque até a universidade tem umas coisas que não parecem ter critério. O exemplo de Hilda Hilst que você deu é muito bom. Quem lê "O Caderno Rosa de Lory Lamb" sabe que é uma desproporção desnecessária e com muito pouca literatura envolvida. Bukowski tem boas histórias, mas não se compara a um Raduan Nassar em termos de imagens poéticas (por falar nisso, leia "Menina a Caminho", se já não tiver lido).

Enfim, gostei muito do seu blog, especialmente porque também sou revisor e gosto de regras.

Beijos.